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Política

Pastores aliados de Bolsonaro elogiam evangélico favorito de Lula ao STF

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Brasília — O cenário político e religioso brasileiro volta a se movimentar diante de uma possível indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF) que pode alterar, de maneira simbólica, a relação entre o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e o segmento evangélico.
Nos bastidores de Brasília, cresce a expectativa em torno do nome do atual advogado-geral da União, Jorge Messias, apontado como o favorito de Lula para ocupar a vaga que será aberta no Supremo. O que surpreende é que pastores tradicionalmente alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro vêm tecendo elogios ao jurista, reconhecendo nele características positivas e até desejáveis para o cargo — um movimento inesperado em meio a um ambiente historicamente polarizado.

Um perfil que agrada além das fronteiras partidárias

Jorge Messias, discreto e de trajetória técnica consolidada, tem sido descrito por interlocutores próximos como um homem de fé, ligado a uma denominação batista e com atuação respeitada tanto no meio jurídico quanto religioso.
Sua origem evangélica, aliada à reputação de bom articulador e à ausência de escândalos públicos, tem atraído olhares até mesmo de setores que se mantinham distantes do governo petista.

Entre líderes evangélicos que apoiaram Bolsonaro, há um consenso emergente de que, independentemente das diferenças políticas, a presença de um segundo ministro evangélico no STF seria um marco simbólico importante para a comunidade de fé.

Um pastor influente de uma grande denominação pentecostal resumiu o sentimento:

“Não se trata de apoiar o governo. É sobre reconhecer quando alguém demonstra competência e princípios. Se Messias tem esse perfil, é natural que o segmento evangélico veja com bons olhos.”

Evangélicos no poder: uma nova configuração

Nos últimos anos, o crescimento da presença evangélica na política brasileira transformou o segmento em uma das forças mais influentes do país. Com aproximadamente um terço da população se declarando evangélica, tornou-se impossível ignorar o peso que essa comunidade exerce nas urnas, nas instituições e nas discussões morais e sociais.

A indicação de André Mendonça, feita por Jair Bolsonaro em 2021, foi celebrada como um feito histórico: o primeiro ministro abertamente evangélico no Supremo Tribunal Federal. Agora, com a possibilidade de Messias se juntar à Corte, o movimento ganha novo significado.

Para os líderes religiosos, a presença de mais de um representante do segmento na mais alta instância da Justiça reforçaria o pluralismo e simbolizaria o amadurecimento da democracia brasileira — ainda que os dois ministros tenham trajetórias políticas diferentes.

Elogios que surpreendem e reações cautelosas

Alguns dos principais nomes do meio evangélico conservador têm adotado um tom surpreendentemente ponderado ao falar sobre o possível indicado de Lula. Pastores conhecidos pela retórica dura contra o governo petista decidiram, neste caso, adotar uma postura mais diplomática.

“Não posso dizer que concordo com as ideias do presidente Lula, mas é preciso reconhecer quando um nome é técnico e tem conduta ilibada. Se for o caso de Messias, merece respeito”, afirmou um líder ligado a uma das maiores igrejas pentecostais do país.

Outros pastores ressaltam que o fato de Messias ser evangélico não o torna automaticamente alinhado às causas religiosas, mas consideram que sua presença poderia abrir canais de diálogo com o governo e com o Supremo em temas sensíveis, como liberdade de culto e educação moral.

“Temos de aprender a conversar com quem pensa diferente. Se ele é um homem de fé e cumpre seu dever com integridade, não há por que rejeitá-lo apenas por vir de outro campo político”, acrescentou outro líder religioso.

O cálculo político de Lula

O movimento também é visto como parte de uma estratégia do presidente Lula para estreitar laços com o eleitorado evangélico — um grupo que, nos últimos pleitos, se mostrou amplamente favorável a Bolsonaro.

Ao indicar um nome com perfil religioso, Lula tenta demonstrar abertura e respeito por um segmento que tem forte influência social e eleitoral. A escolha de Messias, nesse contexto, seria um gesto político de aproximação sem abrir mão de critérios técnicos.

Fontes próximas ao Planalto afirmam que o presidente enxerga na nomeação uma oportunidade de reduzir resistências e sinalizar que o governo pretende dialogar com todos os setores da sociedade, inclusive os mais conservadores.

Para analistas políticos, a eventual escolha de um evangélico moderado para o Supremo também pode funcionar como um movimento simbólico de pacificação nacional, em um momento em que o país ainda carrega as feridas da polarização entre lulistas e bolsonaristas.

A reação entre os bolsonaristas

No campo político da direita, as opiniões estão divididas. Alguns parlamentares ligados ao ex-presidente Bolsonaro enxergam com desconfiança a aproximação de certos líderes religiosos com o governo Lula. Para eles, o gesto de elogiar Messias pode ser interpretado como “ceder terreno” ao adversário.

Outros, porém, adotam um tom mais estratégico. Para esses, apoiar um evangélico com perfil técnico e respeitado pode ser vantajoso, independentemente de quem o tenha indicado.
A lógica é simples: se o STF, historicamente dominado por ministros com visões progressistas, passa a contar com mais uma voz com raízes evangélicas, isso já seria um avanço para o campo conservador.

“Não importa quem indicou. O que vale é o compromisso do indicado com princípios éticos e morais”, afirmou um assessor parlamentar ligado à bancada evangélica.

Entre fé e política: o novo equilíbrio

A relação entre fé e política no Brasil tem se mostrado cada vez mais complexa. O apoio a figuras políticas não se resume mais a afinidades religiosas, mas também à percepção de resultados concretos.

Para muitos líderes evangélicos, a prioridade agora é garantir representatividade em todas as esferas do poder. Nesse contexto, o nome de Jorge Messias surge como um ponto de convergência inesperado entre campos ideológicos opostos.

Enquanto Lula busca ampliar seu diálogo com os religiosos, setores bolsonaristas parecem dispostos a reconhecer mérito além da militância. Essa interação abre um precedente importante: mostra que a fé pode, em alguns casos, funcionar como ponte — e não apenas como muro — entre visões políticas antagônicas.

A importância simbólica do STF para o eleitorado evangélico

O Supremo Tribunal Federal sempre foi visto como um espaço distante do público evangélico. Decisões polêmicas sobre temas morais, como aborto e união civil, geraram desconfiança e críticas entre fiéis.

Por isso, a presença de ministros evangélicos é vista como um avanço simbólico. Mesmo que, na prática, o papel de um ministro seja técnico e imparcial, o simples fato de ter alguém com raízes na fé cristã dentro da Corte transmite sensação de representatividade.

Esse simbolismo tem poder político: reforça a narrativa de que a comunidade evangélica, hoje majoritária em muitos estados brasileiros, está deixando de ser apenas um grupo religioso e se consolidando como uma força de influência institucional.

Desafios à frente

A possível indicação de Messias, contudo, não está livre de desafios. Há quem veja riscos em uma aproximação excessiva entre religião e política. Especialistas em direito constitucional alertam para a importância de preservar a laicidade do Estado e a independência das instituições.

Além disso, o novo ministro, caso confirmado, enfrentará o desafio de equilibrar sua identidade religiosa com a exigência de imparcialidade. Cada decisão será observada com lupa, especialmente em temas que envolvem valores morais.

Dentro da comunidade evangélica, há também divergências. Alguns líderes acreditam que o simples fato de ser evangélico não garante que um ministro defenderá pautas conservadoras. Outros esperam justamente o contrário: que a fé traga sensibilidade às decisões da Corte.

Reconfiguração do diálogo político-religioso

A relação entre Lula e os evangélicos sempre foi marcada por altos e baixos. Durante seus primeiros mandatos, o petista manteve diálogo com parte das lideranças religiosas, mas o avanço de pautas progressistas nos governos seguintes esfriou essa aproximação.

Nos últimos anos, o bolsonarismo se consolidou como a principal força política dentro das igrejas. Agora, porém, sinais de reaproximação começam a aparecer. A postura respeitosa de pastores bolsonaristas diante da possível escolha de Messias é um desses sinais.

“Estamos em um novo momento. O país precisa de estabilidade, e isso passa por reconhecer boas iniciativas, mesmo que venham de quem pensa diferente”, declarou um pastor de Brasília.

Esse tipo de discurso mostra uma abertura pragmática. Em vez de rejeitar o governo em bloco, parte do movimento evangélico parece disposta a dialogar quando há interesse comum — especialmente em pautas relacionadas à liberdade de culto e à valorização da família.

O papel dos líderes religiosos como mediadores

Os pastores evangélicos, cada vez mais influentes no debate público, também atuam como mediadores entre a base religiosa e o poder político. Ao reconhecerem a competência de um nome indicado por Lula, esses líderes enviam uma mensagem de moderação.

A atitude ajuda a reduzir tensões e reforça o papel da igreja como espaço de diálogo. Para alguns analistas, trata-se de um sinal de maturidade política do segmento, que passa a entender que a defesa de valores pode coexistir com a convivência democrática.

Outros, porém, enxergam com cautela. Temem que essa aproximação acabe diluindo a identidade conservadora que consolidou a força do movimento evangélico nos últimos anos.

Uma possível virada de página

Se a nomeação de Messias for confirmada, o episódio poderá marcar um ponto de virada na relação entre o governo e o segmento evangélico. A abertura de diálogo, antes impensável, pode se transformar em uma nova etapa de cooperação institucional.

A presença de mais de um ministro evangélico no STF reforçaria a ideia de representatividade e poderia ajudar a reduzir a percepção de distanciamento entre o Judiciário e a população religiosa.

Para Lula, seria uma vitória política com alto valor simbólico. Para os pastores, um gesto de reconhecimento. E para a sociedade, um exemplo de que é possível encontrar pontos de convergência em meio à polarização.

Conclusão: pragmatismo, fé e política

Os elogios de pastores aliados de Bolsonaro ao possível indicado de Lula ao STF mostram que, na política brasileira, as linhas ideológicas nem sempre são rígidas. Quando o assunto envolve fé, ética e representatividade, o diálogo pode superar fronteiras partidárias.

O caso de Jorge Messias evidencia um novo momento do país: líderes religiosos e políticos, antes em campos opostos, demonstram disposição para reconhecer mérito e construir pontes. É um sinal de que o Brasil pode estar amadurecendo — e que, talvez, a fé esteja se tornando um espaço de unidade em vez de divisão.

Se confirmada a indicação, Messias carregará o peso simbólico de representar milhões de brasileiros que se reconhecem na fé evangélica e esperam ver, no Supremo, não um missionário, mas um magistrado justo, ético e comprometido com a Constituição.

No fim das contas, mais do que uma disputa política, o episódio revela uma lição sobre tolerância e diálogo: em um país tão diverso, ainda é possível encontrar respeito e reconhecimento entre os que pensam diferente — e isso, por si só, já é uma vitória democrática.

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